Pesquisa revela articulação transnacional que usa jornais digitais, bots e fake news para atuar na Argentina e no México
Uma investigação recente expôs uma sofisticada rede de desinformação que teve origem no Brasil e que, nos últimos anos, expandiu-se para outros países da América Latina, especialmente Argentina e México. A operação envolve veículos digitais recém-criados, contas automatizadas em massa e campanhas de manipulação de opinião pública que buscam influenciar debates políticos sensíveis na região.
Segundo os investigadores, parte dos sites utilizados na Argentina e no México foi registrada por empresas que já haviam sido associadas a campanhas de desinformação no Brasil. Esses portais publicam conteúdos ideologicamente alinhados à extrema direita, muitas vezes sem autoria ou fontes verificáveis. De lá, os textos são impulsionados por milhares de bots que replicam o material em redes sociais.
Especialistas alertam que esse tipo de articulação transnacional tem potencial para remodelar disputas políticas internas. Em países como a Argentina, por exemplo, conteúdos falsos sobre segurança, imigração e economia ganharam grande alcance a partir de contas que, posteriormente, se descobriu terem conexão com núcleos brasileiros.
No México, o impacto também vem sendo observado, sobretudo durante períodos eleitorais. Mensagens manipuladas sobre candidatos, instituições públicas e políticas de segurança foram amplamente compartilhadas por páginas sem transparência editorial, alimentando polarização e desconfiança.
O fenômeno acende um sinal de alerta para autoridades eleitorais e órgãos de fiscalização digital. A dificuldade de rastrear a origem desses conteúdos — frequentemente hospedados em servidores estrangeiros — cria um ambiente fértil para a propagação descontrolada de fake news com forte impacto social.
Analistas políticos defendem que a expansão dessa rede revela não apenas a capacidade técnica de seus articuladores, mas também o interesse em promover uma agenda ideológica comum entre grupos conservadores da região. Esse movimento, segundo pesquisadores, pode alterar a dinâmica democrática latino-americana nos próximos anos.
Governos e instituições civis começam a se mobilizar. Na Argentina, medidas estão sendo discutidas para combater portais sem transparência. No Brasil, o debate sobre regulação das plataformas digitais ganhou novo fôlego, especialmente após a comprovação da participação de agentes locais na expansão internacional da rede.
A investigação conclui que a desinformação já opera como um “produto de exportação” na América Latina. Para especialistas, entender o funcionamento desse ecossistema é passo essencial para proteger processos eleitorais, preservar a liberdade de imprensa e fortalecer a democracia no continente.

