China define novo plano quinquenal focado em tecnologia e produção industrial

Xi Jinping (Foto: Reuters)
Xi Jinping

O Partido Comunista da China se reunirá entre os dias 20 e 23 de outubro para definir as diretrizes econômicas do país para os próximos cinco anos, com ênfase em alta tecnologia, reindustrialização e fortalecimento do setor produtivo, segundo reportagem da agência Reuters. O encontro — conhecido como plenário— ocorre em meio à intensificação da rivalidade com os Estados Unidos, sob a presidência de Donald Trump, que recentemente ameaçou importar tarifas superiores a 100% sobre produtos chineses.

Apesar das expectativas de que Pequim adote medidas para estimular o consumo das famílias e reduzir os desequilíbrios entre oferta e demanda, os analistas avaliam que o governo deve manter o foco em um modelo de crescimento baseado na produção e nas exportações, considerado essencial para a projeção de poder global e para a segurança estratégica do país.

Política industrial como eixo central

O novo plano quinquenal 2026-2030, que será apresentado à aprovação do Parlamento em março, deverá “reforçar o apoio à investigação de alta tecnologia e ao desenvolvimento industrial”, afirmou Chen Bo, investigador sénior do Instituto de Estudos do Leste Asiático da Universidade Nacional de Singapura. “Em termos de poder nacional, a produção continua sendo prioritária. Quando há conflito, o que realmente importa é a capacidade de produção, não o setor de serviços”, destacou.

Em um discurso publicado em julho pela revista Qiushi, o presidente Xi Jinpingafirmou que o mundo vive transformações “nunca vistas em um século”, em que a revolução tecnológica e a competição entre grandes potências estão cada vez mais entrelaçadas. Xi defendeu que a China conquiste o “ponto estratégico mais alto” na corrida tecnológica global.

Atualmente, a China lidera setores como veículos elétricos, energia solar e eólica, e controla a produção de terras raras, insumo crucial para a indústria global. O país também se prepara para eventuais negociações comerciais com Trump, enquanto reforça sua autonomia produtiva — com cadeias de abastecimento predominantemente domésticas, exceto em áreas como aviões e semicondutores avançados.

Desafios internos: consumo fraco e individualização

Apesar do sucesso industrial, o consumo doméstico permanece estagnado. A crise imobiliária, o desemprego entre os jovens e o endividamento dos governos locais limitam a capacidade de estímulo. Para o economista Larry Hu, do Grupo Macquarie, “se a demanda interna não reagir, o país enfrentará problemas de desemprego e deflação”. Ele acredita que Pequim só adotará medidas mais firmes de estímulo ao consumo quando a demanda externa enfraquecer o ponto de comprometer as metas de crescimento.

A consultoria Morgan Stanley prevê que o resultado do plenário será um marco de política voltado à tecnologia e à oferta, com “atenção incremental ao bem-estar social”, mas sem uma mudança estrutural. O relatório afirma que “uma recuperação decisiva da economia permanece em 2026”, interrompe continuidade da cautela fiscal e da prioridade à produção.

“Tudo é sobre produção”

Embora o governo tenha introduzido subsídios ao consumo, benefícios para famílias com crianças e aumentos modestos de aposentadorias, os analistas consideram que essas ações ainda são insuficientes para transferências para o mercado interno. Uma recente decisão da Suprema Corte que obriga trabalhadores e trabalhadores a contribuir para a previdência social é vista como um passo para fortalecer o sistema de bem-estar, mas as limitações fiscais restringem os avanços.

De acordo com Dan Wang, diretor do Eurasia Group na China, o novo plano deve dar “mais atenção à segurança social, à saúde e à proteção dos grupos de baixa renda”, mas sem alterar o foco central. “Em um país ainda muito marcado pelo marxismo, tudo gira em torno da produção”, afirmou.

Equilíbrio entre poder e ameaças

Para Guo Tianyong, professor da Universidade Central de Finanças e Economia de Pequim, “a China precisa encontrar um melhor equilíbrio entre o desenvolvimento industrial e as políticas externas ao bem-estar da população”. No entanto, a exibição do cenário global e a pressão por competitividade tecnológica tornam possível uma mudança de rumo significativa.

Assim, o plenário de outubro deverá consolidar a visão de que a força industrial e a inovação tecnológica continuam sendo os pilares da estratégia chinesa, mesmo que isso implique adiar a expansão do consumo e a redução das desigualdades.

 

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