Como a pressão das redes sociais, as condições laborais e o sistema econômico contribuem para o aumento dos transtornos mentais na sociedade atual
Nos últimos anos, o aumento dos casos de doenças mentais tem chamado atenção de especialistas e da sociedade em geral. Entre os principais fatores que contribuem para esse cenário estão o uso excessivo das redes sociais, as condições adversas do ambiente de trabalho e as pressões impostas pelo sistema capitalista. Esses elementos se entrelaçam e criam um contexto que favorece o adoecimento mental de uma parcela significativa da população.
O impacto das redes sociais na saúde mental é um fenômeno cada vez mais estudado. Pesquisas indicam que o uso intenso dessas plataformas está associado a 45% dos casos de ansiedade entre jovens de 15 a 29 anos. Além disso, quem passa mais de três horas por dia nas redes tem 30% mais chances de desenvolver depressão. A exposição constante a conteúdos que idealizam padrões de beleza, sucesso e felicidade cria uma sensação de inadequação e baixa autoestima, prejudicando o bem-estar emocional. A pressão para estar sempre conectado e atualizado gera ansiedade, isolamento e até dependência digital.
No ambiente de trabalho, a situação não é menos preocupante. A busca incessante por produtividade, metas inalcançáveis, jornadas extensas e a falta de reconhecimento geram estresse crônico e esgotamento emocional. No Brasil, os afastamentos por transtornos mentais relacionados ao trabalho aumentaram significativamente, chegando a quase 290 mil benefícios concedidos pelo INSS em 2023. O assédio moral, a exclusão social e a pressão constante são fatores que minam a saúde mental dos trabalhadores, levando a quadros de ansiedade, depressão e burnout. A sobrecarga e o desequilíbrio entre vida pessoal e profissional agravam ainda mais esse cenário.
O sistema capitalista, por sua vez, estrutura essas dinâmicas de forma a maximizar a exploração da força de trabalho e a busca pelo lucro, muitas vezes em detrimento da saúde dos indivíduos. O adoecimento mental é, nesse contexto, uma consequência das contradições do capitalismo, que impõe uma lógica de competição e produtividade incessante, enquanto vende a ideia de felicidade e sucesso baseados em conquistas materiais e estabilidade familiar. Essa pressão por um ideal muitas vezes inalcançável gera sofrimento e desgaste físico e psicológico, configurando um fenômeno social e econômico que afeta trabalhadores de diversas classes.
Além disso, a precarização do trabalho, a intensificação das jornadas e a insuficiência das políticas públicas de saúde mental contribuem para o agravamento do problema. A falta de amparo estatal e a ausência de ambientes laborais que promovam o bem-estar emocional dificultam a prevenção e o tratamento dos transtornos mentais. A tecnologia, embora traga avanços, também acelera os processos de trabalho e aumenta as cobranças, sem oferecer mecanismos adequados de suporte aos trabalhadores.
A combinação desses fatores cria um cenário onde o adoecimento mental se torna uma realidade para muitas pessoas, que enfrentam diariamente a pressão das redes sociais, a exploração no trabalho e as exigências de um sistema que valoriza o desempenho acima da saúde. O resultado são índices crescentes de ansiedade, depressão, estresse e burnout, que impactam não só a vida individual, mas também a produtividade e a qualidade de vida da sociedade como um todo.
Para enfrentar essa crise, é fundamental que haja uma mudança estrutural nas relações de trabalho, com políticas que garantam ambientes mais saudáveis, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e apoio psicológico efetivo. Também é necessário um uso mais consciente das redes sociais, com educação digital que promova o bem-estar emocional e a redução da exposição a conteúdos nocivos. Por fim, a sociedade precisa repensar os valores impostos pelo capitalismo, buscando modelos que priorizem a saúde mental e o bem-estar coletivo.
A saúde mental não pode ser tratada como um problema individual isolado, mas como um reflexo das condições sociais, econômicas e culturais em que vivemos. Reconhecer a influência das redes sociais, do trabalho e do sistema capitalista nesse processo é o primeiro passo para construir caminhos que promovam uma vida mais equilibrada e saudável para todos.

