Cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros relatam sintomas de estresse crônico,
Em um mundo movido pela lógica do capitalismo, onde a produtividade, a competição e o sucesso individual são exaltados como pilares do progresso, uma questão tem ganhado destaque nos últimos anos: qual é o impacto desse sistema na saúde mental das pessoas? Especialistas, trabalhadores e estudiosos apontam que o modelo econômico predominante pode estar cobrando um preço alto demais, refletido no aumento de casos de ansiedade, depressão e esgotamento profissional.
O capitalismo contemporâneo, com sua ênfase no lucro e na eficiência, frequentemente coloca os indivíduos em uma corrida desenfreada por resultados. “Vivemos em uma sociedade que glorifica o ‘fazer mais em menos tempo’, mas raramente paramos para perguntar o que isso custa à nossa mente”, afirma a psicóloga Mariana Lopes, especialista em saúde mental no trabalho. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) reforçam essa preocupação: estima-se que, globalmente, mais de 264 milhões de pessoas sofram de depressão, um número que tem crescido em paralelo ao avanço da economia globalizada.
No Brasil, o cenário não é diferente. A pressão por metas inalcançáveis, a precarização do trabalho e a cultura do “empreendedorismo a qualquer custo” têm contribuído para o que muitos chamam de “epidemia silenciosa”. Um estudo recente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros relatam sintomas de estresse crônico, enquanto o burnout — síndrome de esgotamento profissional — foi reconhecido oficialmente como uma condição ocupacional pela OMS em 2019.
Críticos do capitalismo argumentam que o sistema prioriza o lucro em detrimento do bem-estar humano. “O trabalhador é visto como uma máquina, e quando ele ‘quebra’, é simplesmente substituído”, aponta o sociólogo Pedro Almeida, professor da Universidade de São Paulo (USP). Ele destaca que a desigualdade social, um subproduto do modelo capitalista, agrava ainda mais o problema: enquanto uma minoria acumula riqueza, milhões enfrentam a insegurança financeira, um gatilho conhecido para transtornos mentais.
Por outro lado, defensores do capitalismo alegam que ele também oferece oportunidades de inovação e melhoria de vida. “Sem o incentivo à competição e ao crescimento econômico, não teríamos avanços como a medicina moderna ou tecnologias que facilitam o dia a dia”, argumenta o economista Roberto Silva, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para ele, o problema não está no sistema em si, mas na falta de políticas públicas que equilibrem a busca por lucro com a proteção da saúde mental.
Enquanto o debate segue, histórias pessoais ilustram os desafios. Ana Clara, 29 anos, ex-analista de marketing, abandonou o emprego em uma multinacional após anos lutando contra crises de ansiedade. “Eu trabalhava 12 horas por dia, vivia com medo de ser demitida e me sentia um fracasso por não aguentar o ritmo. O capitalismo me ensinou que meu valor está no que eu produzo, não em quem eu sou”, desabafa.
Diante desse panorama, especialistas sugerem soluções como a redução da jornada de trabalho, o fortalecimento de redes de apoio psicológico e uma mudança cultural que valorize o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. “Precisamos repensar o que chamamos de sucesso”, defende Mariana Lopes. “Se o custo do progresso é uma geração inteira adoecida, talvez seja hora de rever nossas prioridades.”
O embate entre capitalismo e saúde mental está longe de uma resolução. Enquanto o sistema econômico continua a moldar nossas vidas, resta a pergunta: até que ponto estamos dispostos a pagar por ele?
—
Esse texto segue o estilo jornalístico, com uma introdução que apresenta o tema, desenvolvimento com dados e opiniões de especialistas, e uma conclusão que provoca reflexão. Caso queira ajustes ou mais detalhes, é só avisar!