O Perigo oculto do Vape: Quando o fumo eletrônico marca para sempre

O crescimento do uso de cigarros eletrônicos entre jovens acende o alerta para riscos graves à saúde, incluindo bronquite crônica e câncer de pulmão, apesar das proibições vigentes.

João Alves (nome fictício) compartilha sua experiência: “Comecei a usar vape aos 17 anos porque todos os meus amigos costumavam. Parecia algo inofensivo, com vários sabores e sem cheiro. Um ano depois, já não consegui mais ficar sem.” Hoje, aos 20 anos, ele está em tratamento para bronquite crônica e regularmente que esse hábito trouxe consequências permanentes, mas ainda não consegue parar.

Na última sexta-feira (29), foi comemorado o Dia Nacional de Combate ao Fumo, instituído em 1986 como um marco na luta contra os malefícios da nicotina. Apesar das políticas públicas terem reduzido significativamente o número de fumantes de cigarro tradicional, surge um novo desafio: o aumento do uso de cigarros eletrônicos entre os jovens, também chamados de vapes ou pods.

Esses dispositivos liberam nicotina em alta concentração, além de metais como níquel e alumínio, e substâncias cancerígenas geradas pelo aquecimento dos líquidos usados ​​| Foto: Bruno Henrique/IgesDF
A pneumologista Izabel Diniz, do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), alerta: “Temos atendido cada vez mais jovens com inflamações pulmonares graves causadas pelo uso desses dispositivos. Muitos pensam que o cigarro eletrônico é seguro, mas a realidade é outra. Trata-se de um risco silencioso e perigoso.”

De acordo com a pesquisa Vigitel 2023, do Ministério da Saúde, 2,1% da população brasileira já usava cigarros eletrônicos, índice que sobe para 6,1% entre os jovens de 18 a 24 anos. Estima-se que cerca de 4 milhões de brasileiros já experimentaram esses dispositivos, mesmo diante da concessão da Anvisa desde 2009.

O perigo desses aparelhos não é vapor. Apesar da aparência moderna e do marketing atraente, os cigarros eletrônicos não são isentos de riscos. Estudos mostram que os líquidos aquecidos liberam nicotina em alta concentração, metais tóxicos como níquel e alumínio, e substâncias cancerígenas provenientes do aquecimento dos solventes.

“O cigarro, seja ele industrializado, de palha, narguilé ou eletrônico, expõe os pulmões a milhares de substâncias tóxicas e cancerígenas. Uma falsa crença de que o cigarro eletrônico é menos nocivo pode destruir décadas de conquistas no combate ao tabagismo”, reforça um pneumologista.

Nos Estados Unidos, uma epidemia de lesões pulmonares ligada ao uso de vapes infectou mais de 2.500 internações e cerca de 60 mortes entre 2019 e 2020. No Brasil, o Ministério da Saúde vem identificando casos graves desde 2020.

O tabagismo continua sendo o principal fator de risco para o câncer de pulmão, responsável por cerca de 85% dos casos. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), entre 2023 e início de 2025, o Brasil registrou cerca de 704 mil novos casos de câncer por ano, com aproximadamente 32 mil sendo câncer de pulmão — um dos mais letais, atrás apenas dos tumores de mama, próstata e colorretal.

Izabel Diniz, pneumologista do Hospital de Base: “A falsa ideia de que o cigarro eletrônico faz menos mal ameaça retroceder décadas de avanços conquistados contra o tabaco”

“A saúde das próximas gerações está em jogo. É fundamental informar, educar e fiscalizar para evitar que o uso do cigarro eletrônico comprometa o avanço conquistado na redução do tabagismo tradicional”, conclui a pneumologista Izabel Diniz.

Informações do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF)

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