Trump e a Guarda Nacional: Uma tensão crescente em Los Angeles

 

Mobilização federal desencadeia confrontos e desafia limites legais

No cenário político americano, a decisão do ex-presidente Donald Trump de mobilizar a Guarda Nacional em Los Angeles, Califórnia, gerou uma onda de controvérsia e confrontos. A medida, tomada em resposta a protestos contra operações de deportação de imigrantes, reacendeu o debate sobre o uso de forças militares em solo doméstico e a autonomia dos estados. A tensão nas ruas da cidade escalou rapidamente, transformando manifestações pacíficas em embates diretos entre civis e as tropas federais.

A Guarda Nacional, uma força de reserva das Forças Armadas dos EUA, opera predominantemente sob o comando dos governadores estaduais. No entanto, a ação de Trump federalizou parte dessa força, colocando-a sob controle direto da Casa Branca, sem o consentimento do governador da Califórnia, Gavin Newsom. Essa manobra foi amplamente criticada por autoridades locais e especialistas jurídicos, que a consideraram uma violação dos protocolos estabelecidos e um abuso de poder sem precedentes em décadas.

Os protestos em Los Angeles tiveram início após uma série de operações do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), que resultaram na detenção de dezenas de supostos imigrantes irregulares. A comunidade, majoritariamente latina, reagiu com indignação, levando milhares às ruas para expressar sua oposição às políticas migratórias de Trump. A mobilização da Guarda Nacional, em vez de acalmar os ânimos, serviu como um catalisador para intensificar a resistência dos manifestantes.

Confrontos violentos foram registrados em diversos pontos da cidade, com a polícia e as tropas da Guarda Nacional utilizando gás lacrimogêneo e munição não letal para dispersar a multidão. Imagens de manifestantes enfrentando agentes de segurança e bloqueando vias expressas circularam globalmente, evidenciando a gravidade da situação. A retórica de Trump, que classificou os atos como “motins de imigrantes” e prometeu “ser muito firmes”, apenas adicionou combustível à polarização.

O governador Gavin Newsom, do Partido Democrata, denunciou a ação de Trump como “propositalmente inflamatória” e alertou para o risco de escalada das tensões. Ele chegou a solicitar formalmente a revogação do “envio ilegal de tropas” e a devolução da Guarda Nacional ao seu comando. A prefeita de Los Angeles, Karen Bass, também criticou a medida, classificando-a como uma “escalada perigosa” que provocou o caos na cidade.

A legalidade do uso de tropas federais em solo americano é um tema complexo. Embora o Ato de Posse Comitatus de 1878 geralmente proíba o emprego de militares para funções de policiamento doméstico, o Ato de Insurreição de 1807 prevê exceções em casos de rebelião contra a autoridade federal. Trump invocou o artigo 12406 do Título 10 do Código dos EUA, que permite a convocação da Guarda Nacional em certas circunstâncias, mas a interpretação e aplicação dessa lei em tal contexto geraram questionamentos.

Essa não foi a primeira vez que Trump acionou a Guarda Nacional para reprimir protestos. Em 2020, ele pediu aos governadores de vários estados que enviassem tropas para Washington, D.C., para lidar com as manifestações após a morte de George Floyd. No entanto, a mobilização sem o aval de um governo estadual, como ocorreu em Los Angeles, é um evento raro e historicamente associado a períodos de grande turbulência, como a luta pelos direitos civis na década de 1960.

A situação em Los Angeles sublinha a crescente polarização política nos Estados Unidos e a disposição de líderes em utilizar medidas extraordinárias para impor sua vontade. O embate entre o governo federal e as autoridades estaduais, somado à indignação popular, cria um cenário de incerteza e levanta preocupações sobre o futuro da democracia e dos direitos civis no país. A matéria continua a ser um ponto de atenção para a imprensa internacional, que acompanha de perto os desdobramentos dessa crise.

 

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