Lula pode retomar diálogo com partidos da base e destravar reforma ministerial

Lula e parte de sua comitiva no Vietnã (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Viagem ao Japão e Vietnã reforçou aproximação com Congresso e pode abrir caminho para trocas na Esplanada

247 – De volta ao Brasil após missão diplomática no Japão e no Vietnã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prepara uma nova rodada de articulações com líderes partidários e da cúpula do Congresso Nacional para tentar destravar a aguardada reforma ministerial. A informação foi publicada nesta segunda-feira (1º) pela Folha de S.Paulo, que ouviu parlamentares e auxiliares do governo sobre os próximos passos do presidente.

Segundo o jornal, a movimentação de Lula ocorre após meses de negociações emperradas e deve marcar uma tentativa mais incisiva de reconfigurar a Esplanada dos Ministérios. O gesto é visto por aliados como uma sinalização de que o presidente pretende assumir protagonismo na articulação política, atendendo a uma demanda antiga de congressistas que pedem maior envolvimento direto do chefe do Executivo nas tratativas.

Durante a viagem à Ásia, Lula convidou para compor sua comitiva figuras centrais do Legislativo, como o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), além de líderes de partidos como MDB, União Brasil e PP. Também integraram o grupo o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ambos anteriormente cotados para ocupar ministérios no governo.

Apesar de Pacheco ter descartado essa possibilidade em reunião com Lula no dia 15 de março, e de Lira afirmar que não houve conversa concreta sobre o assunto, interlocutores do presidente não excluem futuras nomeações estratégicas, caso haja interesse mútuo. Um aliado de Lira afirmou à Folha que sua entrada no governo não está descartada, caso surja convite para uma pasta considerada relevante.

Ainda de acordo com os relatos, há uma percepção de que o presidente demonstra mudança de postura. “Quando nós voltarmos ao Brasil, vamos discutir as coisas que temos que discutir”, afirmou Lula durante entrevista no Japão, ao justificar a ausência de tratativas políticas durante a viagem. “Não seria louco de discutir o assunto durante a viagem”, completou.

A expectativa é que, nos próximos dias, Lula se reúna individualmente com Motta e Alcolumbre para tratar das possíveis trocas ministeriais. As conversas devem incluir também os presidentes dos partidos com representantes no governo, como Gilberto Kassab (PSD) e Marcos Pereira (Republicanos), ambos com históricos recentes de críticas à gestão petista.

Entre as legendas que integram a base aliada, mas que ensaiam distanciamento com vistas às eleições de 2026, estão União Brasil, PSD e Republicanos. As três siglas somam sete ministérios e já demonstraram insatisfação com seus espaços na Esplanada. No caso do PP, partido de Fufuca (Ministério do Esporte), há até setores que cogitam desembarque do governo.

Apesar das incertezas, a nova ofensiva de Lula junto ao Congresso é vista como um esforço para reconstruir pontes e reduzir as tensões acumuladas ao longo dos dois primeiros anos de mandato. Um novo ciclo de diálogo mais frequente pode não apenas facilitar a reforma ministerial, mas também melhorar o ambiente político para votações de interesse do Palácio do Planalto ao longo de 2025.

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